O consórcio de imóveis, uma modalidade de financiamento que havia perdido espaço nos últimos anos, está retomando sua relevância no mercado imobiliário brasileiro.
Dados de diferentes associações indicam que o modelo de investimento vem retomando protagonismo. Segundo dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), o consórcio imobiliário cresceu 16,3% em vendas de novas cotas no primeiro quadrimestre de 2023, em relação ao mesmo período de 2022.
Ao mesmo tempo, de acordo com levantamento da fintech FinanZero, as buscas por consórcios imobiliários e de carros aumentaram mais de 70% em um ano. A pesquisa mapeou as buscas realizadas no Google entre julho de 2022 e junho de 2023, analisando termos como “consórcios” e “consórcio de casa”.
Com taxas de juros mais atrativas e vantagens como a ausência de entrada e a flexibilidade no planejamento financeiro, essa opção vem conquistando a atenção de quem busca realizar o sonho da casa própria.
Como funciona o consórcio de imóveis?
O consórcio de imóveis opera por meio da formação de grupos de pessoas que contribuem mensalmente com um valor preestabelecido. Esse montante é utilizado para contemplar um ou mais participantes do grupo por meio de sorteios mensais. Aqueles que não são sorteados têm a oportunidade de utilizar o valor acumulado como lance, aumentando suas chances de serem contemplados.
Assim como o cliente procura por melhores taxas e condições para o imóvel que deseja financiar, no caso de uma compra, a pesquisa por melhores condições também é uma ferramenta essencial na contratação de um consórcio. É necessário avaliar as taxas de administração, obrigações financeiras, prazos e regras de contemplação de diferentes empresas.
A volta do consórcio de imóveis
Nos últimos anos, o mercado imobiliário no Brasil passou por diversas transformações, impulsionadas principalmente pela queda das taxas de juros e pela busca constante de alternativas mais acessíveis para a aquisição da casa própria. Nesse contexto, o consórcio de imóveis, que já foi uma escolha bastante popular, mas havia perdido a posição de destaque, está experimentando uma espécie de renascimento.
O crescimento recente dessa modalidade de financiamento pode ser atribuído a uma série de fatores, mas, em especial, pela busca por opções mais econômicas para realizar o sonho da casa própria.
Conforme explica Rodrigo Martins, CEO da Âncora Consórcios, empresa que está há mais de 30 anos nesse mercado, está perdendo força o “mito” de que, para valer a pena a contratação de um consórcio, o cliente precisa ter sorte.
“Dizem que só quem é sortudo consegue a contemplação, mas a questão é que o consórcio envolve estratégia também. O consorciado não precisa ficar esperando apenas os sorteios mensais, é possível dar lances para aumentar as chances e adiantar a contemplação. O lance mais alto do mês leva a carta de crédito antes do fim das prestações”, pontua Martins.
Procura pelo consórcio cresce até 30% nas imobiliárias
No caso da Apolar, rede imobiliária com mais de 60 unidades no Paraná e em Santa Catarina, houve aumento significativo na procura pelo consórcio imobiliário no início deste ano, em relação ao mesmo período de 2022.
“Registramos um aumento de 30% nessa modalidade de janeiro a maio. Isso demonstra que os clientes estão buscando alternativas mais econômicas e planejadas para realizar o sonho da casa própria”, afirma Jeronimo Junior, gestor do Consórcio Apolar Imóveis.
Ele avalia que uma das maiores vantagens do consórcio imobiliário é a economia, destacada pela ausência de juros.
“Há apenas a taxa de administração, embutida nas parcelas. Ela é bem menor do que os juros cobrados pelos bancos e varia segundo o valor e o prazo do plano escolhido. Além disso, o valor da carta de crédito é atualizado periodicamente de acordo com o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que mede a variação dos custos dos materiais e da mão de obra na construção civil. Isso garante o poder de compra do consorciado”, explica.
Imediatismo do corretor é barreira a ser vencida
Apesar dos números positivos da Apolar, um dos desafios das administradoras de consórcios continua sendo aproximar o produto das imobiliárias e corretores autônomos, que historicamente não têm tanto apreço pela modalidade. A principal razão é que o comissionamento só se aplica na entrega das chaves, o que pode levar vários meses ou mesmo anos – uma contraposição ao conhecido imediatismo da atividade de corretagem.
Porém, a estratégia deve ser pensada como um relacionamento a longo prazo, em que o consorciado tem chance de se tornar cliente de outros negócios.
Outra possibilidade de aproximação é a oferta de consórcio a investidores que tenham objetivo futuro de renda extra. A principal vantagem é que a modalidade permite a aquisição do bem por meio de parcelas mensais acessíveis e sem entrada.
“A procura tem como um dos principais objetivos dos investidores a obtenção de rendimentos com vistas a melhoria da qualidade da vida financeira na aposentadoria”, afirma o presidente executivo da ABAC, Paulo Roberto Rossi.
Possibilidade de utilização do FGTS dá relevância para o consórcio de imóveis
“O FGTS é um benefício que acompanha a trajetória do trabalhador e, entre as diversas possibilidades de aproveitamento, uma opção que muitos desconhecem é a sua utilização no sistema de consórcios, que é uma modalidade sem juros”, explica Luís Toscano, vice-presidente de Negócios da Embracon, empresa de abrangência nacional especializada em consórcios.
O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) pode ser empregado de duas maneiras distintas no sistema de consórcios, proporcionando mais flexibilidade e oportunidades ao consorciado. A primeira forma é utilizando o Fundo para ofertar lances nas assembleias mensais. Dessa forma, ao invés de aguardar ser contemplado por sorteio, o consorciado pode acelerar o processo ao utilizar parte do FGTS como lance, aumentando suas chances de ser contemplado antecipadamente.
Na segunda forma, é possível utilizar o saldo do Fundo para complementar o valor da carta de crédito, viabilizando a compra de um bem com valor superior ao originalmente planejado. Essa opção é especialmente relevante em momentos de alta nos preços de imóveis, permitindo que o consorciado tenha mais poder de compra.
Segundo Luís Toscano, a utilização tem algumas regras. “O consorciado deve atender aos requisitos estabelecidos pela legislação vigente, como, por exemplo, ter, no mínimo, três anos de trabalho sob o regime do FGTS e não possuir financiamento ativo no Sistema Financeiro de Habitação (SFH) na cidade onde pretende adquirir o imóvel”, ressalta.
Consórcio de imóveis vale a pena? É melhor que financiamento?
Enquanto o consórcio oferece mais flexibilidade no pagamento e ausência de juros, o financiamento tradicional pode ser mais rápido e direto. A melhor escolha depende das necessidades de cada comprador e de sua capacidade financeira.
À medida que o consórcio de imóveis ganha força no mercado brasileiro, fica evidente que os consumidores têm à disposição uma opção interessante para alcançar o sonho da casa própria. No entanto, é essencial que os interessados avaliem suas necessidades, comparem as ofertas disponíveis e entendam as regras do consórcio para fazer uma escolha que esteja alinhada com suas metas e capacidade financeira.
Com o mercado imobiliário em constante evolução, essa modalidade de financiamento está se consolidando como uma alternativa viável e acessível para aquisição de imóveis no Brasil, o que precisa ser encarado como uma oportunidade das imobiliárias não perderem negócio.